a porta que nos separa (parte 2- final)
O EXÉRCITO VERMELHO OU
O ARROCHA DA FARMÁCIA TRADUZIDO PARA O MANDARIM FICA MAIS OU MENOS ASSIM:
qual é o nome da rã
que salta do outro lado do brejo?
* * *
bebo, na concha das mãos,
uma pérola rara:
a lua branca refletida no córrego
que passa, silenciosamente,
atrás da minha casa
* * *
devo chorar pelo inverno?
devo morder uma maçã diferente?
* * *
as ondas apavoram, furiosas,
mas a tarde está vazia
e o bebê se comporta no caminho do quebra-mar
* * *
um veleiro emborcado
um ferro enegrecido pelos séculos
um tempo de outra escravidão
* * *
no lusco-fusco da mente,
uma libélula de seda.
* * *
se os porcos fugissem
disfarçados de nuvens
eles morreriam
logo, dizendo: tigres!
fotografia: Daniel Dinato
* * *
1
a guerra, os dados falsos,
os boletins duvidosos, a carestia
são olhos cegos, são brotos de sangue
que atingiram, em cheio,
o frágil coração do império
2
a roleta deste jogo turvo é o sol
que vê passar todos os dias,
indiferente, pelos caminhos montanhosos
uma multidão de jovens famintos:
essa é a época das correntes
sobre a mesa
* * *
ela não mais faria parte do enredo
que assim não macerava
o delicado de ninguém, nem de nada.
O RETORNO DO RECALCADO:
MAMÃE? Armando? DEVOLVE minha viiiiiiiiiidaaaaaaa!
EMBARAÇO:
fugiriam, apenas e assim.
Diogo H. Cardoso, João Fred, Nanda Leturiondo, Paulo J. de Afonsinho e Vítor Queiroz
1º de maio de 2015