top of page

a porta que nos separa (parte 1)

há a porta que nos separa. no fundo.

uma febre imaginária.

MAMÃE eu quero

uma bagatela? um pão de queijo? um caramanchão?

parede imaginária

toda crivada

de balas, mamãe EU QUERO ser um poeta lírico. E, num lodaçal de cobras, o lagarto sapeia. É LUA CHEIA. A pedra esquenta. E no meio da farmácia,

a atendente ruiva

finge que não existe: o quê?

um casal de velhos? a moral da história? o descaso e a ignorância?

“Eu quero” é um adjetivo

e todos os adjetivos, a partir de agora, devem ser esquecidos!

Sepultem a atendente distraída

e o sistema de som

da farmácia que fazia todas a gôndolas parecerem inúteis

no meio de tanto: “eu tô carente de você / eu tô cheinha de tesão / volta, amor, DEVOLVE minha vidaaaa!”

ARMANDO, no fundo

a febre

já acabou, é só uma desculpa...

de um lado há uma porta

que nos separa

e do outro?

Fotografia: Daniel Dinato

A MÉDULA ÓSSEA:

tão cedo, Armando? Cadê você? corda de veleiro faca de corte, um espaço vago, percorrido Armando? Truque barato esse, hein? a passista chorava entre as cores e o embaraço da alegria: tanta gaiola tanta camisola de cetim Armando? Ei, moça! Aqui. cobrindo o menininho e o veleiro





– Mas pretendia cada miudeza, sinhô! E a loucura ali em pé de igualdade.

a faca, outra vez,

o vestido da maldade, uma lagarta

de raiz forte atravessada

na gengiva superior.

É difícil ser cantora lírica, hoje em dia,

câmera, atenção

é o grande momento,

vai:

então

ela abriu o horizonte

nenê

agora não quer mais saber de mamar.

TÁ VENDO?

esse é o problema do lirismo,

na hora do vamo ver

____NA HORA

DO VAMO VER

até o depoimento de uma Valquíria

fica parecendo

“Central do Brasil”

ENTRAM AS PASSISTAS:

após a carta de alforria é só o mar Meu marido tá parecendo um bobo da corte, tá tendo um ataque de lirismo aqui. E eu? Cheia de conta pra pagar, Bó. e o coração encarna a face Moça! coração encarna a face eu tô carente de você coração eu tô cheinha de tesão encarna a zabumba, a pele do lagarto de vidro, encarna volta, amor tão logo escapassem os piratas pela enseada, que piratas?


______________________________________________


CONTINUA...



Bainema via editorial

uma via de edição, um coletivo de artistas, uma produtora cultural

Saiba Mais

bottom of page