PABVULA.PABVLOSÆ: o nariz do Barbosa (parte 2)
Senhoras e senhores, dando continuidade ao nosso espetáculo,
co'cês: A BIROSCA!
(Caindo a lona. Dividido em 3 partes, das quais segue a segunda)
TECIDOS. CONIVNTIVOS
A casa de um palhaço, uma réstia de luz. Alhos trançados num canto da cozinha: qualé nome do recanto onde a sobriedade vai aprender lições? O que é a casa de um homem? É um outro animal? Qualé a medida da intimidade, qualé a espessura dessas paredes caiadas? Não, não pode haver escadarias, nem á nem bê. Pra que servem os números a realidade tem gênero? Quantos degraus tem a estatura daquele negro Caçanje? A casa de um palhaço é um vaso de flores. O que ocorre enquanto o forro desce, ó Santa Brígida, sobre as nossas cabeças, dentro mesmo, no interior da vida de alguém? Quem é capaz de brincar com as baixezas? O palhaço? Quem é o palhaço nessa história? Barbosa é um homem de princípios. As urtigas, os tojos do campo, não crescem em xaxins. E, muito menos, numa floreira pendurada na janela dum apartamento. Palhaço é um galardão um nome uma patente. As trepadeiras as ervas daninhas casa inteira e o rio fantasioso que corre através de seus cômodos, isso tudo coça e. Outros princípios, outros princípios. O histrião dá um pau na metafísica. Ora cantemo o nariz desse homem dessa besta maquiada desse leopardo ferido. Já que o Mesmo disparú. Vermelho intumescido e vagamundo. Definitivo
PALHACOS
Bernardo procurou no meio-fio, logo abaixo da janela do. Que janela é essa, Berenice? A janela do apartamento, ôme. Ah, aquela desgraça cheia de vazamento? O apê de seu arquinimigo. Aquele pardieiro da goteira do barulho e das prima? Senhor Barbosa, Senhor Barbosa, acuda! Barbosa tá dormindo. Faz tempo, Bebê? Não acredito. Isso aqui já tá virando anarquia. Eu quero ver é essa palhaçada toda na rua. Qual delas? Parei. Gente sem imaginação. Rame rame dos inferno. Pronto, passou. Fica aí, bunitinho. A rua, mulé. A rua, rê ú rú á á á e mais á. Logo ao lado e debaixo dos carros... passa boi passa boiada. E sua mãe também, mulé onça. É verdá. Minha mãe já passou do ponto, tadinha. Faz tempo, né Bebê? Faz. Então faz de conta que não faz. Mas o que é que deu em você, Bacuri? Nada. Ô, cachaça errada! Ô, cacete armado. Psiu, vamo começar a cena? Os pagantes já estão verdes de frio.
O.FAVOR
Assim é que se pensava na época, bem nos antigos do mundo, quando a lona ainda era uma estrela aberta na paisagem da vida. Nada a ver com a proeza humana. Uma é que dizia, Ana, velha companheira de viagem, na maior simplicidade que tinha: “quem tem cu tem medo” E quem acordou cedo? E quem já deu a bundinha? E quem levou um pescoção das moelas?
Ana Bruaca, dá uma risadinha bra mim? Por princípio, as estradas são intermináveis. Ô, légua tirana! O fim não existe, tudo é prosopopeia. Esse é o lero, esse é o xêro. A curvatura é a afinação do bojo inteiro. Ana existe e não existe. Debruada por caridade num oratório corcomido pelo tempo Ana chora e ri de uma só vez. Veja bem meu bem na casa de Barbosa muita coisa esquisita é vida, por fora, e par de tradição Circe adentro. Existe, não existe? Ô, vida intermitente! As portas todas são azuis na casa de Barbosa, as uvas crescem dentro de um poço. Debaixo do caramanchão. O Mesmo encontra-se parado num vão de escada. A mão dos machos da família traziam estampados grandes corações amarelos desde o início dos tratados.
Viajando dentro de seus próprios muros, entre sonhos e ademanes, Barbosa repete: ao centro. Barbosa é feiticeiro. As fechaduras o trinco ou a tranca ou a trinca? As entradas as saídas as passagens passaduras passarelas passamanes Patagônias e mais toda sorte de limite entre um cômodo e outro. É tudo ornamentado, tudo é ilusório tudo é vão na casa de Barbosa. São essas as características de um estilo único? Ao centro! Os braços dessa fábula conseguirão fechar-se por cima dessas realidade tão díspares? A Senhora Sant´Ana chora peida e deplora. Ao centro! Daí os novos nomes, os hematomas do caminho, esse porque solto no verso. Por princípio, as estradas são intermináveis. Ora ora. E Barbosa preenchia os interstícios do tempo com o barro do gozo e da alegria.
PAREI.AQVI.BARBOSÆ.PECO
DESCULPAS.O.MAGO
INSIGNE.PELO.FAVOR.DE.TODOS.OS.NVMES
CONTNVA.ESTA.PARABOLA.BRA
MIM
– Um agrado, Bernardo – disse para si próprio – Será que o homem o perdeu, de fato? Não há nada aqui. – Próximo a ele, um carro roxo estacionou, besuntado de vaselina nos pneus.
– O senhor é o porteiro? – surgiu e veio andando a madame Zingara, perita em búzios, tarô, baralho cigano e Yu-Gi-Oh.
– Sou sim, senhora.
– Onde está aquele outro moço que trabalhava aqui à tarde… O bonitinho?
– O Bruno, senhora?
– Sim, ele mesmo. Um amor de pessoa, aquele ali.
– Ele foi demitido, senhora
– Demitido? Que horror! Ai, que coisa mais trevosa, coisinho. Devem ter descoberto a parte dele com aquele outro tipo, como que é o nome dele? O pai daquela doçura. Bianca? Bianca, o nome dela.
– Não posso dizer, senhora. Melhor ficar calado. Por mim e pela senhora.
– Ah, claro, sim. É que tem cheiro, sabe?
– Cheiro?
– É. Cheiro… Mas me conte, menino, o que mais você tem a me contar? Eu preciso saber.
E então, envolto em uma estranha bruma cítrica e tomado por um misterioso vento que vinha do oriente, Bernardo contou para madame Zingara sobre sua missão.
– Um o quê?
– Um nariz de palhaço, senhora. Eu sei, é…
As passaduras, p. ex.: responsáveis por ligar as zonas de lazer às de trabalho. Assim, havia um recorte de meio metro de altura na parede do quarto, através do qual se podia rastejar até o escritório. Passaginhas: ornamentos anatômicos. Passagonhas: imagina! Pouco importa.
Barbosa é um rosto.
Barbosa, ele tem uma face.
Barbosa é uma ficção e uma face.
Barbosa é um cheiro.
Barbosa, ele é um nariz.
Barbosa, ele tem dois mil cheiros para um nariz.
Barbosa é uma flor.
Barbosa é uma metáfora.
Barbosa decidiu não subir escadas.
Barbosa é a Lua.
Barbosa é visto por alunos do quarto ano.
Barbosa não passa da porta, não da porta, não da porta.
Barbosa, seu patife.
Abre a cortina.
É ele. É ele.
Fig. 3: Barbosa
(Continua...)
***
Dando continuidade aa saga da Páscoa 2016, hoje apresentamos a segunda parte de uma das etapas do jogo literário produzido pelos colaboradores da Bainema Via Editorial: A BIROSCA. Não conseguiu acompanhar a rodada desde o início? Aqui vai o link para acessar a primeira parte de nossa "PABVULA.PABVLOSÆ: o nariz do Barbosa":
http://bainemaviaeditorial.wix.com/bainema#!PABVULAPABVLOSÆ-o-nariz-do-Barbosa-parte-1/fr6b9/56f3eb840cf26be41bd8dee0 Uma obs: com essa publicação, nossa sala "Todos Juntos Venceremos" exibe o produto de um trabalho coletivo que ainda está em curso. Ou seja, este texto que acabam de ler faz parte de uma rodada da Birosca que ainda está em andamento, e os cacos e bugalhos verbais e gráficos que aqui apresentamos segue circulando nas mãos dos atuais participantes. São eles: Diogo Henrique Cardoso, João Frederico, Vitor Queiroz e Yasmine Ávila Ramos! Quer saber mais sobre a Birosca ou enviar suas impressões desse processo criativo? Escreva-nos através de nossa página no face ou através de nosso e-mail: bainemaviaeditorial@gmail.com !