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PABVULA.PABVLOSÆ: o nariz do Barbosa (parte 1)

Senhoras e senhores, com vocês: A BIROSCA! (Caindo a lona. Dividido em 3 partes, das quais segue a primeira)

Fig. 1: Objeto

***

PABVULA.PABVLOSÆ

uma tranca,

um pé de cabra,

um fio

de cabelo loiro

da fada madrinha da filha da amante da Rainha dos Mouros

um barco de papel uma coroa

e um desdouro

esse é o pé da fábula

essa é a trança

d´oiro,

abroteCésar:

QVEM

E era. Todo vermelhinho, Bernardo cora enquanto fala. O pássaro roca sobrevoa nossa invenção? O Mesmo apareceu, em sonhos, frente aa cama de Bernando. O Mesmo. Ocorrido, todo engomadinho. O Mesmo é terrível. E Bernardo lacrimeja, Bernardo cora enquanto dorme.


Já por tantas vezes, já por tantas estradas diferentes, já por tantos acontecimentos o pássaro gigantesco se-vos-passara. Pobre Bernardo! O Mesmo adula, o Mesmo, dentro de seu eterno elevador brilhoso lista indica refala refavelizando tudo: barcos de papel, jarras, chapéus de mágico, agogôs de amigos, tecidos, faixas, pompons, bolinhas de malabares, maquiagem…


O Mesmo é o genitivo do medo.

Mind the gap between the platform and the train.


O Mesmo é o maníaco do elevador.


Pássaro roca. Ô, meu pássaro pontevírgula. Pouse! De tanta pedrinha subindo e descendo, de tanta légua tirana de tanto caminho venteiro, assombrado pela síncopa do tempo cardíaco e de todos os seus alvedrios, de tanta paúra interna, Bernardo´stá que é um cansatriz.


Dentro do buraco, todo envergonhado, Bernardo pensavachava muitas leiras. Que o quinto andar era o mais difícil para se dormir, que a sombra do pássaro devia ser real, mas não se quis... E não o bosquejo duma phantasia, que o Mesmo já havia se-nos-atirado no poço.

O.VERBO.TAMBEM.ACHA

Bernardo é uma árvore.


– Deixe comigo. Teremos notícias em breve – e foi assim, com um pedaço de papel na mão e com uma caneta colorida que madame Zíngara, de vestido cor-de-canela, compôs o objeto mais cobiçado, raiz de todos os dramas das próximas duas semanas.


Bernardo é uma fábula. Raiz do quê? Jantarei o vestido da madame, esse carteado aí. É a condena. Alimento requentado, folhagem emaranhada. Madame é só a casca do ego dos outros.


– Deixe comigo. E Bernardo? Un chaval que siempre dá pábulo a los rumores más estériles. Certeza incerta. Escadaria de cortiça. Vegetal andante. Tia Zíngara foi castigada, um belo dia, e agora só pode falar a verdade Toda a verdade.


Bernardo é uma tranca, um cadeado enferrujado, Bernardo é uma árvore amordaçada. O verbo também acha! Bernardo é um feitiço que nunca, jamais, entenderá a mão do feiticeiro.



VM.NARIZ


Uma jarra. A mão invertida. O trinco ou a tranca ou a trinca? Barbosa e uma dúzia de cílios postiços, perucas, maletas e malotes de tintura. Seria um alquimista?


Entre a mandinga perdigueira e a condena da verdade, entre o sonho e a sombra dos pássaros gigantes, entre a esperança falsificada e o poço do elevador, sinistro e taciturno, Barbosa selaborda o seu mandrake.


Fig 2: Magiamm

Barbosa interfonou para o porteiro. O vigarista sentiu o cheiro de longe. O monstro, o ogre comedor de vianda e sebo, arrotava labá, dentro do elevador. Pediu que fosse à sua porta. Quem? O monstro, o Mesmo, o tegumento teso, crivado de penas. Pássaro, fruto proibido, tamarindo desencontrado.


– Pois não. – respondeu. Ao senhor Barbosa o porteiro Bernardo, à fome as unhas, à cartola os traques, ao negão estereotipado a PombaGira. Murucututu piou foi de azedume, parabólico, de cima do telhado:


– Çangue! Çangue!


– Pois não.


– Meu jovem – disse, entregando-lhe uma nota de vinte – peço-lhe toda a discrição possível, mas há algo que é. Hum, murucututu tá na moita. Çangue de gente, çangue de ôme, çangue de branco! O mal à espreita, venenoso. Algo que deveria ser, um sentimento, um ogre. Há um assassinato ici, que é todo meu, e que não está mais em minha posse. Deixei meus olhos, meus cílios, deixei até a gordura dos meus rins aí dentro. Debaixo daquele elevador, meu camarada. É, no fundo do poço. Eu morri , eu morri nas mãos de um dos meus fantoches. Foi. Meu nome é Barbosa. Algo que eu perdi… e foi...


– Estou escutando.


– É um nariz de palhaço. Eu sou uma voz sem corpo. Eu sou apenas o dono de uma incerteza. O desaparecimento de. ..


– Um o quê?


– Um nariz de palhaço Barbosa mente! Barbosa não consegue disfarçar o óbvio Pois me escute, amigo. Deixei nele quaisquer dois comprimidinhos pra dormir. Foi ele, sim foi Barbosa que trouxe para essa fábulas essas criaturas todas de nossas vastas solidões. Esse tal de murucututu, d´acutipuru, ogres, vampiros e monstros antigos, que já não se encontram nos matos contemporâneos. É. Barbosamente! Acho que caiu da minha sacola quando, bem, quando eu subi, há pouco. E agora, qualé a mão? Qualé o seu truco, mandrake? Você poderia procurá-lo para mim? Eu lhe dou um agrado, se encontrar.


– Ah, sim, pode deixar, ´inhô, que eu me encarrego disto. Bernardo era um negão Caçanje, uma árvore de tronco frondoso, um pensamento vivo.


– Estamos claros então quanto ao que falamos, quanto os “comprimidos”, sim?


– Ah, sim! Perfeitamente. Perfeitamente, seu... – e saiu

(Continua...)

***


Apresentamos hoje o resultado de uma das etapas do jogo literário produzido e constantemente alimentado pelos colaboradores da Bainema Via Editorial: A BIROSCA. Dividimos o bixinho em três (3) partes, das qual acaba-se de ler a primeira. As demais aparecerão aqui no blog ao longo dessa semana (Sabadão) e no início da próxima (Segunda-feira)! Afinal, páscoa é pra ser vivida sem miséria e o que vai, tão contente, já retorna... Por isso, esperamos que acompanhem com prazer esse contínuo presente. Além disso, com essa publicação, nossa sala "Todos Juntos Venceremos" exibe o produto de um trabalho coletivo que ainda está em curso. Ou seja, este texto que acabam de ler faz parte de uma rodada da Birosca que está em andamento neste exato momento, e os cacos e bugalhos verbais e gráficos que aqui apresentamos segue circulando nas mãos dos atuais participantes. São eles: Diogo Henrique Cardoso, João Frederico, Vitor Queiroz e Yasmine Ávila Ramos! Quer saber mais sobre a Birosca ou enviar suas impressões desse processo produtivo? Escreva-nos através de nossa página no face ou através de nosso e-mail: bainemaviaeditorial@gmail.com !


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